Sempre que ouço alguém dizer qualquer coisa como "Tenho uns livros que já não quero, a biblioteca aceita?", já sei que a probabilidade de vir lixo a caminho é de 95%. Quando perguntamos se a informação contida nos mesmos é actualizada e se estão em bom estado, toda a gente garante que sim, para depois trazerem exemplares tão amarelos que parecem ter sido desenterrados numa qualquer escavação arqueológica.
Quando tirei o curso técnico-profissional de bibliotecas, uma professora que trabalhava na Biblioteca Nacional dizia que as doações eram sempre uma dor de cabeça, uma vez que as pessoas não compreendem que há livros que são, de facto, lixo. Porque têm informação desactualizada, porque existem milhares de exemplares iguais a circular por aí ou porque têm um aspecto tão nojento que não há quem lhes pegue! Espero que não fiquem chocados, mas a verdade é que nem sempre o livro é sagrado. O problema é que há quem não aceite um "não" como resposta, pelo que a mesma professora dizia que havia quem deixasse caixotes de livros durante a noite à porta da BN, a fazer lembrar os pobres que, noutros tempos, deixavam os filhos indesejados na roda!
Regra geral, os utilizadores ficam super chateados quando ouvem dizer que não queremos o que nos estão a dar. Não compreendem que:
1) Uma biblioteca pública não é uma biblioteca de conservação, pelo que deve ter um acervo actualizado;
2) Todas as bibliotecas têm, a partir de certa altura, que lidar com o problema da falta de espaço. Por muito que custe, as colecções não podem apenas aumentar. Muitas vezes, é preciso abater o que está desactualizado, em mau estado ou que simplesmente não é emprestado há anos. Porque uma biblioteca acaba por ser um pouco como um ser vivo, não podendo fugir à morte.
Onde trabalho, porque a situação das doações estava tornar-se insustentável e o queixume dos doadores aborrecidos com os "nãos" insuportável, começámos por recusar apenas aquilo que é pura porcaria. De resto, aceitamos quase tudo mediante uma condição: a avaliação. Desta forma, os livros poderão conhecer três destinos:
1) Ficam a pertencer à colecção da biblioteca (caso interessem);
2) São deixados numa mesa à entrada para que possam ser levados por quem os quiser;
3) Reciclagem (só mesmo o que está a cair de podre).
1) Ficam a pertencer à colecção da biblioteca (caso interessem);
2) São deixados numa mesa à entrada para que possam ser levados por quem os quiser;
3) Reciclagem (só mesmo o que está a cair de podre).
Vem este texto a propósito de uma doação recebida esta semana, uma preciosa oferta de... revistas de moda e decoração da década de oitenta e manuais escolares de 1979, seguidos de munícipe extremamente chateado depois de ouvir um "não traga mais nada".
Suponho que, com um Inverno tão meiguinho, já estejam em curso as habituais limpezas de primavera. Pergunto-me que outras pérolas virão por aí!
2 comments:
Realmente há pessoas que só querem livrar-se do lixo que têm cá em casa. Foi por isso que alguns livros da minha avó eu optei mesmo por meter no papelão. Estavam amarelos e com folhas descoladas e portanto ao menos agora poderão dar forma a outras coisas.
Ainda este fim-de-semana recebemos uma preciosidade: livros de geologia em inglês e literalmente podres. Acho que vieram directamente do jurássico :D
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