Há mágoas que teimam em agarrar-se a nós, por mais que o intelecto as classifique como irrelevantes. No meu caso, são pequenos acontecimentos tão carregados de emoções que, quando menos espero, saltam do esquecimento e pedem atenção. E turva-se a vista com a dor no peito. E sente-se a garganta em nó, que parece mal chorar.
Estou sentada no cimo da estrada, no banco com a melhor vista da aldeia. Contemplo os montes a clarear pelo horizonte e sinto aquele frio típico do Outono, que não magoa mas já pede o aconchego de um casaco. Mesmo sem o cheiro das estevas, levadas pelos incêndios, há ali uma vida a pulsar. Se ao menos tivesse uma pequena parcela daquele poder de regeneração da natureza…
Um raio de sol rompe uma camada espessa de nuvens e, imediatamente, vens-me à lembrança. Sonho tantas vezes contigo, meu querido pássaro. Não fui eu que te tirei à força do ninho, mas por esse dia hei de carregar sempre esta imensa culpa.
Ao longe, um melro fura o foco de luz que, logo depois, se apaga.
Sorrio. Um dia, hás-de ser tu a receber-me no teu colo.
Texto criado a partir desta foto (Lina Bm) |
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